Reflexões em tempos de pandemia
Em tempos de pandemia várias foram as minhas reflexões.
Há tantas palavras “novas” que surgiram no contexto desta atualidade atípica! Palavras que, embora “novas”, já estão gastas de tanto que as ouvimos. São pesadas e trazem consigo um significado muito particular. Não têm género, raça ou credo e tratam todos por igual. Assim, são objetivas, duras, de sonoridade feia, e entraram pelo nosso vocabulário adentro e pela nossa porta, literalmente, famintas de uma distopia caseira.
Reflexões em tempos de pandemia
Contudo, não é delas que eu quero falar. O que acontece, é que me fizeram lembrar um livro lido há muitos anos, e do qual reservo a memória de ser um dos grandes que me passaram pelas mãos. Passava-se num espaço que podia ser qualquer um, onde personagens sem nome se moviam perante uma situação totalmente inesperada e sem precedentes. Eram personagens sem nome porque de nada valia identificá-los se, perante o caos, todos somos iguais. Marcou-me certamente o facto de ter sido revelada uma faceta perversa do ser humano justificada pela urgência da sobrevivência. Tudo valia para se viver, ou melhor, para se sobreviver, apenas.
Porém, perante a situação que estamos a vivenciar, não estamos a ficar cegos. Não somos os “cegos malvados”, insensíveis à realidade que nos circunda. Muito pelo contrário. Acredito que a grande maioria tem a capacidade de revelar o que de melhor existe em nós, a nossa capacidade de entreajuda, de responsabilidade e de adaptação.
Adaptação do mundo empresarial
O nosso dia a dia foi-se alterando e dentro desta nova realidade, nós não podemos desistir. Aliás, temos é de, contrariamente aos “cegos malvados” do livro, sermos bons de caráter, na nossa casa, na nossa família, com os nossos amigos e nas nossas empresas.
Ser empresário nos tempos atuais não é fácil e a adaptação a novas formas de trabalho tem também muito que se lhe diga. Afinal, teletrabalho é uma ferramenta recente e a que temos que nos habituar e saber gerir. E esta adaptação por vezes é difícil. Acresce a isto tudo, a esta nova realidade do mundo do trabalho, que somos seres profundamente sociais. Além disso, este “isolamento”, esta falta de convívio social e de trabalho a que temos sido forçados, têm consequências. Um recente estudo publicado na revista Nature Neuroscience revela que há uma reação neurológica que provoca o desejo de interações sociais. Nesse sentido, esta necessidade é representada no cérebro “de forma semelhante como quando temos fome”. Conclui-se que “as interações sociais são uma necessidade humana básica”.
A Porto de Ideias
A mim, sobretudo, faz-me falta o contacto físico, as reuniões e as conversas presenciais, a troca de ideias e os pedidos de ajuda espontâneos que surgem no dia a dia “normal” de trabalho, em equipa, num escritório. Estamos, na Porto de Ideias, a trabalhar remotamente. Não só é difícil, como também é estranho. Mas a nossa capacidade de adaptação, de resiliência, a nossa capacidade de resistir e sobreviver é grande. Temos, assim, a responsabilidade de encontrar novos caminhos, o melhor que podemos e sabemos, sempre ao lado da nossa equipa e dos nossos clientes, encarnando o papel de heróis e heroínas, para todos, em conjunto, fazemos o nosso melhor.
E no confinamento, no recolhimento, na luta contra esta assustadora pandemia, que tal ler o “Ensaio sobre a cegueira”?