Comunicar na era da dependência digital
É certo e compreendido que vivemos na era da dependência digital. Quase tudo pode ser tornado em algo eletrónico e, com isso, oferecido algum valor. Falamos de experiências, relações interpessoais, eventos, informação, arte e muito mais. Estamos dependentes da tecnologia e das vantagens que nos traz, mesmo que nos torne cegos às suas desvantagens.
Se um website relevante no nosso dia-a-dia, por acaso, estiver indisponível durante indeterminado tempo, é capaz de trazer um pouco de caos às nossas rotinas já enraizadas na utilização constante dessa ferramenta digital.
Esta dependência digital é também visível na área empresarial, onde o contacto com o mundo exterior é constante e atual. O modo como as empresas comunicam com os seus clientes, inclusive como alcançam o seu público-alvo, tem de ser inovador e diferente. Os métodos mais eficazes têm de ser estudados, tal como as tendências do dia-a-dia para uma comunicação mais eficiente.
O metaverso — ou metaverse — e os NFTs não escapam desta nova forma de responder às necessidades dos clientes. De uma maneira muito simples, o metaverso pode ser entendido como sendo uma realidade virtual. As pessoas têm os seus avatares digitais onde é possível criar uma vida à parte como for mais favorável, incluindo relações e experiências. É um espaço que combina elementos físicos e digitais. Um NFT, que pode ser traduzido para “token não fungível”, é uma peça de arte digital que não pode ser trocada. Funciona como um certificado digital exclusivo referente a um arquivo, como se fosse um “selo” de autenticidade. Estes são vendidos de um modo digital, ou seja, é usado dinheiro eletrónico nas transações — as criptomoedas, sendo a bitcoin a mais conhecida. Em 2014, foi criado o primeiro NFT, mas foi em 2020 que viveu o grande boom.
Ora, as empresas vão para onde os seus consumidores forem. Migram em conjunto, de modo que os clientes tenham sempre o produto certo, na hora e no local certos. Se a melhor forma de alcançar o consumidor for participando nas realidades virtuais disponíveis, então assim será. Produtos podem ser vendidos como NFTs nessas realidades. Podem ser criados eventos virtuais onde os convidados têm a possibilidade de conviver e, por exemplo, comprar merchandising da empresa, que está a ser vendida como NFT, por uma certa quantia de criptomoedas. Um excelente exemplo desta estratégia é a aposta do McDonald’s no metaverso e nos tokens, que pode passar a disponibilizar um universo virtual com comida e bebida digital — NFTs — e cenários interativos de restaurantes, serviços, concertos e outros eventos online. Fornecendo uma ligação com o mundo real, os consumidores que estiverem nestes cenários poderão encomendar comida para o local onde estão.
Para além disso, o metaverso traz, também, um novo look ao tão conhecido trabalho remoto. De modo a criar um ambiente “presencial”, mas totalmente virtual, o Facebook vai lançar uma aplicação que possibilita trabalhar remotamente, mas marcar presença nas reuniões empresariais através de uma realidade virtual com avatares. A transformação do trabalho em algo exclusivamente online é uma realidade cada vez mais próxima, o que pede às empresas um acompanhamento digital acelerado.
No entanto, como já foi mencionado, o alcance do metaverso vai para além disso. Eventos, palestras, simples idas a restaurantes e muito mais está tudo dentro do leque de experiências que o metaverso possibilita. Graças ao avanço tecnológico, e à crescente dependência de ferramentas digitais, é natural que as empresas adaptem as suas estratégias comunicacionais a meios unicamente virtuais.
O metaverso e os NFTs são o futuro da comunicação. Mesmo que o contacto presencial e direto com o cliente seja impossível de substituir pela experiência única que proporciona, o modo de comunicar tem de evoluir tendo em conta a possibilidade de estar em qualquer lado, a qualquer hora, que as empresas tanto necessitam, possibilitado pela realidade virtual. A compra e venda de NFTs, por mais questionável que a sua autenticidade seja, oferece um mundo novo de oportunidades de marketing digital, de propriedade digital e de compreensão do comportamento de consumidores.
Os tokens não fungíveis são a porta para um mundo preenchido de novas oportunidades de negócio e de alcance do público-alvo. A venda de NFTs como estratégia já foi adotada por empresas de grande calibre, tal como a Coca-Cola, a Nascar e a Gucci. Já a sua compra, que pode ser considerada uma “moda” entre aqueles que o podem fazer, também chegou aos mais famosos. Eminem, Jimmy Fallon e Snoop Dogg são apenas algumas celebridades que já aderiram à compra destes tokens.
Posto isto, refletimos sobre a questão que a dependência digital no seio empresarial nos apresenta: será que os “velhos” métodos de comunicação estratégica se irão dissipar mais rapidamente do que as empresas estão preparadas?